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quarta-feira, 13 de março de 2013

Refúgio na PAZ


No último domingo a @maria_fro lá no Twitter me indicou uma matéria sobre Refugiados que seria transmitida pela TV Record feita por 2 jornalistas tuiteiros Gustavo Costa ( @gcosta_jorn  ) e Marco Aurélio Mello ( @maureliomello )  http://r7.com/j9hy

A matéria muito boa e angustiante mostra a vida de refugiados no Brasil. São pessoas vindas do Congo, da Nigéria, de Guine Bissau, Afeganistão, Costa do Marfim, Paquistão, Palestina, ou seja gente de todas as partes do mundo.



Me fizeram lembrar dos chamados "boat people" dos anos 70, aqueles que fugindo das guerras em seus países (Camboja, Vietnã ,Laos) se atiravam ao mar até um pedaço de terra que os abrigasse.

Na matéria os entrevistados se mostram (a maioria) insatisfeitos com a vida que tem por aqui. Um dos entrevistados chega a dizer que veio para o Brasil por "propaganda enganosa" e que não encontrou aqui nada do que esperava, que nunca sentiu-se feliz por aqui.



Foram apresentados casos bem distintos, mas todos muito angustiantes para pessoas como nós, que nunca passamos por algo parecido.

Coisas assim:
- família Colombiana que aqui sente-se mal com o fato de ter que fazer com que os filhos fiquem presos (no quintal), ao invés de brincarem livremente na rua como em seu país e que registra com pesar o fato de que a ONU não considerou o fato de que desejariam viver perto do mar.

- O contador da Costa do Marfim que aqui, precisou trabalhar 12 horas por dia como pedreiro por um salário de R$800,00 que considera insuficientes.



- Uma palestina protesta por não poder trabalhar porque seu bebê não consegue vaga em creches.

-Vimos notícias sobre os cerca de 5 mil haitianos recebidos por nós com vistos humanitários (uma linha extra e justificada de assentamento de refugiados).

- Foi mostrado o trabalho da ONG Arsenal da Esperança que fica aqui do lado, na Hospedaria do Imigrante em uma área de 30 mil metros quadrados, tem 1200 vagas e recebe moradores de rua e estrangeiros, aliás, sua vocação desde as primeiras imigrações para São Paulo (é lá o museu do Imigrante).

- Vimos também uma pequena casa que oferece 15 vagas para mulheres e crianças e que sobrevive de doações.

Muitos dos que apareceram na matéria são vindos de países de imensas riquezas naturais mas que vivem em pobreza absoluta.

Desde o domingo, minha cabeça dá voltas  e me sinto meio esquizoide diante dos sins e nãos que se debatem dentro dela. Há muitos, enormes questionamentos a se fazer.

Há os racionais e os emocionais. Os práticos e os humanitários. Os políticos e os econômicos.

Espero que esta minha tentativa de desabafar, desenrolar os fios das reações possíveis à bela matéria, provoque reações através de comentários que elucidem o que se passa pela cabeça das pessoas.

Vamos lá: refugiados são pessoas que deixam seu país fugindo de guerras,por falta de segurança, pela violência, por conflitos internos, perturbações generalizadas da ordem pública e violação de direitos humanos de toda espécie.

O Brasil desde os anos 90 é considerado um dos países mais avançados no que diz respeito à recepção de refugiados. Acordos entre nosso governo e o ANCUR (Alto Comissariado para Refugiados da ONU), falam em reassentamentos planejados com tarefas a serem executadas pelo estado e com o auxilio de ONGs. Planejamento? No Brasil? Tá.

Com 6 anos de permanência no país como refugiado os estrangeiros recebem visto permanente. Antes disso, o CONARE garante a eles acesso a trabalho, políticas públicas de saúde e educação.   

Os outros países que recebem refugiados, tem uma cota anual para isso. O Brasil não...

Aí começam minhas impressões.

É óbvio que ver o sofrimento alheio dói e muito na minha alma.

Por outro lado, ver os refugiados fazendo reclamações que são feitas diariamente por milhões de brasileiros em todas as regiões do país também me incomoda.

Ao contrário do que veem tentando nos fazer acreditar, o brasileiro continua vivendo em estado de miséria em muitos pontos do país. Estão aí as secas em várias regiões para mostrar. Assim como estão as favelas, as habitações hiper populares espalhadas pelos grandes centros e os salários, que caso alguém não saiba, o mínimo é menor do que os R$ 800, 00 citados lá em cima. Os programas de distribuição de renda criados nos governos FHC Lula e Dilma podem até reduzir a fome e total destruição que a falta absoluta de dinheiro podem trazer, mas não nos fazem menos miseráveis. A aparente ascensão das classes D e E vem do crédito oferecido por empresas privadas (santas Casas Bahia) mas muito em breve acarretarão em aumento cada vez maior do endividamento das famílias. A ex classe média ficou travada entre o aumento do consumo popular (que não lhe atrai) e o consumo de alto luxo (que não consegue alcançar).

Fica uma pergunta: Temos como acolher esses refugiados? Temos como oferecer dignidade?

Temos, uma dignidade mínima igual a de nossos mais pobres e com certeza maior do que a que teriam em seus países.

Há discriminação? Claro que há. Há muitos preconceituosos por aí. Mas com certeza é menor do que encontrariam em outros países. Em São Paulo por exemplo, ninguém estranha mais a presença de africanos e latinos para todos os lados. Eles até já tem pontos de reunião pela cidade. 

O que se pode fazer?

Será que vocês percebem que tudo isso é fruto da degradação moral e (não gosto de usar a palavra) espiritual pela qual passamos?

Não veremos nenhuma dessas tragédias humanas chegarem ao fim, a não ser através de um cataclisma profético que venha nos atingir. Aí acabaríamos todos. Os sofredores reais e a maioria de nós, os hipócritas que nada ou muito pouco fazemos...

A única intervenção realmente insistente que vejo acontecer´são as de organizações como os Médicos Sem Fronteiras, dos Exércitos (como o Brasileiro) que atuam diretamente em campos de refugiados e de algumas igrejas que tem projetos por aí onde em geral além do peixe ensinam a pescar.





Podemos fazer mais? Sim, se abrirmos mão de muitas coisa. E sem esperar grandes resultados.

Grandes resultados dependeriam de uma mudança total de paradigmas. Substituir o ter pelo ser seria um deles. É possível? Duvido muito, infelizmente.

Enquanto gente incompetente profissional e moralmente for detentora de poderes sobre a maioria nada vai acontecer e elas estão espalhadas pelo mundo, são espectros em nossas vidas.

O mestre budista Lama Padma Samten sempre comenta o fato de que coisas boas não viram notícia. O que nos chega são as coisas ruins, mas muita coisa maravilhosa acontece por aí.  Há muita gente de boa vontade no mundo, mas elas não tem voz.

Será que um pequeno trecho do caminho não seria começarmos a enaltecer o que ainda há de bom em alguns seres humanos?

Quem sabe um refúgio na PAZ?

Pensem. E reajam com comentários, por favor!





   

sábado, 9 de março de 2013

Chorar Chorão




"O tempo é rei a vida uma lição
E um dia a gente cresce
e conhece nossa essência e ganha experiência
E aprende o que é raiz, então cria consciência"
Charlie Brown Jr



Chorar Chorão choramos...

Nunca é bom ver gente ainda com muito por fazer, partir assim, tão sem razão.

Nos últimos tempos tenho lido muito sobre a história da música contemporânea e já vinha pensando em escrever algo a respeito da parceria música/drogas.

A morte do líder do Charlie Brown Jr e de milhares de skatistas por aí só me impulsionou.

Estava na dúvida entre um post mais técnico ou um assim, visceral. 

Como sempre o último venceu.

Ver um cara tão capaz de produzir músicas belas e influentes acabar mergulhado nas drogas tem que nos fazer refletir.

Como eu disse, ao ler sobre música, me perguntei o tempo todo como é que as pessoas agem com tanta naturalidade e aceitação quando o assunto são as drogas?

Tim Maia, Lobão, Eric Clapton, Keith Richards, Ozzy Osbourne, Elvis Presley, nosso amado Raul e o agitador cultural Nelson Mota só pra citar alguns... Todos usuários de drogas. Especialmente álcool e maconha. A maioria cocaína e anfetaminas.

Aí, vou ter que aguentar os defensores do álcool e da maconha. Sinto muito, são drogas muito prejudiciais, limitantes e ponto.

Sou careta sim, graças aos deuses. Só que não de forma fácil. Fumo como um dragão mas não chego perto do álcool porque tenho medo. Medo do que ele pode causar em uma pessoa que, se   caiu de cabeça no cigarro, tende a mergulhar no resto também. Então, sou prudente...

Muitos alegarão que bebem (e fumam maconha) "socialmente" prá não ter que "engolir tudo a seco". Ouvi estas desculpas a vida toda em minhas relações pessoais e profissionais. Trabalhei com muitos dependentes durante minha vida, tanto como colega de trabalho como terapeuta deles!

Isto é fuga. Como é fuga o uso de drogas.

O pior de tudo é que, como os que citei aí em cima, muitos se dão bem, enriquecem (são talentosos e batalham pelo que sabem fazer) e isso faz com que a juventude ao redor do mundo não perceba que muitos mais morreram jovens, destroçados, sozinhos.

E sozinhos porque assim eles quiseram.

Basta ver a declaração da ex esposa de Chorão dizendo que fez tudo o que estava ao seu alcance...

A luta das famílias de dependentes em geral é inglória.

Os tratamentos existentes hoje são frágeis, dependem muito do interesse do dependente que na verdade costuma estar tão entregue que não consegue responsabilizar-se por seus atos suicidas.

Eles até podem querer escapar desta tragédia, mas a dependência física, ainda que controlada com os tratamentos, muitas vezes é superada pela dependência emocional.

Não há pontos convergentes o suficiente para que se diga que tal ou qual situação leve alguém a começar a se matar. 

As pesquisas convergem e se contradizem a cada momento. Há fatores genéticos e psicológicos reconhecidos, mas também há os sociológicos.

Temos que fazer alguma coisa.

Os pais precisam parar de fazer de conta que é normal um garoto/a de 14, 15 anos chegar em casa bêbado como um gambá.

Aliás, os pais precisam repensar as drogas todas que utilizam, sejam elas lícitas ou ilícitas....

Entendo perfeitamente a luta anti manicomial. Muitos abusos aconteceram ao longo dos anos em relação a internações indevidas, mas, do jeito que a coisa está, é preciso pensar na possibilidade de internações compulsórias. Atropelar direitos humanos não é internar compulsoriamente um suicida potencial. É deixa-lo por aí em sua roleta russa diária até que o pior aconteça...

Entre os que citei lá em cima, 3 são ingleses nascidos no pós guerra. Tem histórias de vida parecida, começaram por pura "farra", curiosidade e passaram toda sua vida "fora do ar", inconscientes do que se passava ao seu redor. Os 3 admitem isso. Perderam uma prazerosa convivência com os pais, o crescimento dos filhos e até um registro real das boas coisas que o dinheiro proporcionou a eles. Os 3 concordam que é quase um milagre estarem vivos ainda já que perderam dezenas de amigos ao longo de suas vidas. Sim, existem indícios de que alguns organismos podem ter uma resistência maior...Vai arriscar? 

Os brasileiros citados por sua vez, tem histórias de vida diferentes, mas também perderam muita gente querida, muitos parceiros.

De todos os citados, só tenho informação de que Eric Clapton fundou uma clínica de tratamento.

Sinceramente não sei o que poderíamos fazer ou se é possível fazer algo... 

As drogas em geral e o álcool e o fumo em particular são presenças históricas, sempre estiveram por aí. Seu uso indiscriminado é que vem crescendo ao longo dos tempos na medida em que a sociedade se deteriora em vários aspectos.

O que substituiria essas substâncias assassinas?

Consciência? Auto conhecimento? Métodos alternativos de relaxamento ? Amor? Segurança?

Não sei. Talvez formas amplas de auto expressão. Colocar prá fora os sentimentos sem ser criticado por eles, ter respeito e liberdade, ter sucesso mas de forma que isso não te condene a passar a vida solitário em meio às multidões. 

Temos que parar de aplaudir e agir como se fosse algo "divertido". A degradação humana nunca o será.

Mas acredito que o caminho mais importante é o da coragem, coragem de encarar as próprias falhas, a própria fragilidade sem precisar fugir delas... Ter mais motivos para sorrir ao invés de chorar.

Porque senão, vamos passar o resto de nossas vidas chorando Chorão, Elis, Amy, Ledger, Cobain, Hendrix, Joplin, Cazuza, Sid Vicious, Morrison, Keith Moon, W. Houston e milhares de anônimos por aí...