Enter your email address:

Delivered by FeedBurner

sábado, 9 de março de 2013

Chorar Chorão




"O tempo é rei a vida uma lição
E um dia a gente cresce
e conhece nossa essência e ganha experiência
E aprende o que é raiz, então cria consciência"
Charlie Brown Jr



Chorar Chorão choramos...

Nunca é bom ver gente ainda com muito por fazer, partir assim, tão sem razão.

Nos últimos tempos tenho lido muito sobre a história da música contemporânea e já vinha pensando em escrever algo a respeito da parceria música/drogas.

A morte do líder do Charlie Brown Jr e de milhares de skatistas por aí só me impulsionou.

Estava na dúvida entre um post mais técnico ou um assim, visceral. 

Como sempre o último venceu.

Ver um cara tão capaz de produzir músicas belas e influentes acabar mergulhado nas drogas tem que nos fazer refletir.

Como eu disse, ao ler sobre música, me perguntei o tempo todo como é que as pessoas agem com tanta naturalidade e aceitação quando o assunto são as drogas?

Tim Maia, Lobão, Eric Clapton, Keith Richards, Ozzy Osbourne, Elvis Presley, nosso amado Raul e o agitador cultural Nelson Mota só pra citar alguns... Todos usuários de drogas. Especialmente álcool e maconha. A maioria cocaína e anfetaminas.

Aí, vou ter que aguentar os defensores do álcool e da maconha. Sinto muito, são drogas muito prejudiciais, limitantes e ponto.

Sou careta sim, graças aos deuses. Só que não de forma fácil. Fumo como um dragão mas não chego perto do álcool porque tenho medo. Medo do que ele pode causar em uma pessoa que, se   caiu de cabeça no cigarro, tende a mergulhar no resto também. Então, sou prudente...

Muitos alegarão que bebem (e fumam maconha) "socialmente" prá não ter que "engolir tudo a seco". Ouvi estas desculpas a vida toda em minhas relações pessoais e profissionais. Trabalhei com muitos dependentes durante minha vida, tanto como colega de trabalho como terapeuta deles!

Isto é fuga. Como é fuga o uso de drogas.

O pior de tudo é que, como os que citei aí em cima, muitos se dão bem, enriquecem (são talentosos e batalham pelo que sabem fazer) e isso faz com que a juventude ao redor do mundo não perceba que muitos mais morreram jovens, destroçados, sozinhos.

E sozinhos porque assim eles quiseram.

Basta ver a declaração da ex esposa de Chorão dizendo que fez tudo o que estava ao seu alcance...

A luta das famílias de dependentes em geral é inglória.

Os tratamentos existentes hoje são frágeis, dependem muito do interesse do dependente que na verdade costuma estar tão entregue que não consegue responsabilizar-se por seus atos suicidas.

Eles até podem querer escapar desta tragédia, mas a dependência física, ainda que controlada com os tratamentos, muitas vezes é superada pela dependência emocional.

Não há pontos convergentes o suficiente para que se diga que tal ou qual situação leve alguém a começar a se matar. 

As pesquisas convergem e se contradizem a cada momento. Há fatores genéticos e psicológicos reconhecidos, mas também há os sociológicos.

Temos que fazer alguma coisa.

Os pais precisam parar de fazer de conta que é normal um garoto/a de 14, 15 anos chegar em casa bêbado como um gambá.

Aliás, os pais precisam repensar as drogas todas que utilizam, sejam elas lícitas ou ilícitas....

Entendo perfeitamente a luta anti manicomial. Muitos abusos aconteceram ao longo dos anos em relação a internações indevidas, mas, do jeito que a coisa está, é preciso pensar na possibilidade de internações compulsórias. Atropelar direitos humanos não é internar compulsoriamente um suicida potencial. É deixa-lo por aí em sua roleta russa diária até que o pior aconteça...

Entre os que citei lá em cima, 3 são ingleses nascidos no pós guerra. Tem histórias de vida parecida, começaram por pura "farra", curiosidade e passaram toda sua vida "fora do ar", inconscientes do que se passava ao seu redor. Os 3 admitem isso. Perderam uma prazerosa convivência com os pais, o crescimento dos filhos e até um registro real das boas coisas que o dinheiro proporcionou a eles. Os 3 concordam que é quase um milagre estarem vivos ainda já que perderam dezenas de amigos ao longo de suas vidas. Sim, existem indícios de que alguns organismos podem ter uma resistência maior...Vai arriscar? 

Os brasileiros citados por sua vez, tem histórias de vida diferentes, mas também perderam muita gente querida, muitos parceiros.

De todos os citados, só tenho informação de que Eric Clapton fundou uma clínica de tratamento.

Sinceramente não sei o que poderíamos fazer ou se é possível fazer algo... 

As drogas em geral e o álcool e o fumo em particular são presenças históricas, sempre estiveram por aí. Seu uso indiscriminado é que vem crescendo ao longo dos tempos na medida em que a sociedade se deteriora em vários aspectos.

O que substituiria essas substâncias assassinas?

Consciência? Auto conhecimento? Métodos alternativos de relaxamento ? Amor? Segurança?

Não sei. Talvez formas amplas de auto expressão. Colocar prá fora os sentimentos sem ser criticado por eles, ter respeito e liberdade, ter sucesso mas de forma que isso não te condene a passar a vida solitário em meio às multidões. 

Temos que parar de aplaudir e agir como se fosse algo "divertido". A degradação humana nunca o será.

Mas acredito que o caminho mais importante é o da coragem, coragem de encarar as próprias falhas, a própria fragilidade sem precisar fugir delas... Ter mais motivos para sorrir ao invés de chorar.

Porque senão, vamos passar o resto de nossas vidas chorando Chorão, Elis, Amy, Ledger, Cobain, Hendrix, Joplin, Cazuza, Sid Vicious, Morrison, Keith Moon, W. Houston e milhares de anônimos por aí...

Um comentário:

  1. Belo texto sobre nosso Chorão.
    Perdemos mais um talento, e essa droga que leva nossos jovens a este estado.
    Parabéns Patricia
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

    ResponderExcluir