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terça-feira, 28 de maio de 2013

Esprit de corps, ideologia e saúde

Tremendo barulho vem sendo feito com a notícia da negociação para contratação de médicos cubanos para trabalharem no Brasil.

Há aplausos e vaias de todos os lados.



O próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou com representação  tentando impedir as contratações.

Os que pretendem contratar alegam a falta de médicos no Brasil e a necessidade de atender a todas as regiões do país, dizem confiar na formação dos médicos cubanos e estão apoiados no baixo índice de mortalidade infantil daquele país.

Os contrários duvidam da formação adequada dos médicos cubanos e veem na ideia algo mais voltado a uma sedimentação ideológica do que uma providência de assistência social.

O que prevalece é a discussão sobre o índice de 89% de reprovação desses profissionais no exame de validação do diploma (REVALIDA) em 2012. 

Uns alegam que a prova é completa e adequada, outros que ela foi feita para reprovar.

Na verdade essa briga tem vários pontos a serem observados.

E quem sou eu para discuti-los? 

É, não sou médica embora conviva com muitos deles inclusive formados no exterior, não tenho autoridade pública e entendo muito pouco sobre estratégias de influência ideológica.

Mas, sou brasileira, pago um absurdo de impostos e tenho pleno conhecimento sobre a péssima situação da saúde no país, embora a propaganda governamental tente nos convencer do contrário.

Hoje mesmo fui atrás de 2 medicamentos simples (analgésico e anti-inflamatório) em uma unidade básica de saúde do município e não consegui. Isso porque vivo na maior cidade do país. Imagina o que acontece no interior do Amazonas, de Sergipe, do Pará....



A situação é muito complexa e como sempre, vou dar aqui meus palpites. Quem sabe vocês opinam também e juntos possamos chegar a um acordo que faça os que estão no poder (governantes, médicos, etc) nesta situação tomem decisões que nos beneficiem e não a eles mesmos?

  Quanto ao "esprit de corps" acho natural que os médicos brasileiros sintam-se invadidos com a ideia de contratar estrangeiros. Temos médicos demais no país, eles apenas estão mal distribuídos.

   Não podemos esperar que todo médico tenha aquela dedicação sacerdotal à profissão. A maioria deles funciona como qualquer outro profissional, querem retorno financeiro de seu investimento em anos de estudo. E no Brasil, isso só acontece nos grandes centros onde pediatras de bairro cobram R$400,00 a consulta, dermatologistas R$ 700,00 ou endocrinologistas chegam a R$1.000,00 e não tem vaga na agenda!

É de conhecimento de todos que os convênios médicos pagam pouco mas são uma grande oportunidade de trabalho para recém formados ou aqueles que não herdaram um consultório familiar, e eles estão nos grandes e médios centros....

      O serviço público de saúde paga bem menos do que eles almejam, embora sejam dos maiores salários pagos entre os servidores.

      Há a questão da revalidação dos diplomas dos estrangeiros. Ela é necessária e o grau de dificuldade da prova, concordo, deve ser determinado por quem vai aplicá-la. E isso deve ser igual para qualquer profissional estrangeiro vindo de qualquer universidade, mesmo as consideradas perfeitas.

       Sabemos também que não é à toa que os médicos não querem ir para lugares longínquos ou muito periféricos. Falta estrutura mínima, segurança, dificuldade de deslocamento. Ou seja, falta estrutura pública em diversas áreas além da saúde.

        Não sou eu que vou esgotar o assunto, mas para quem quiser saber mais sobre a distribuição e características dos trabalhadores médicos brasileiros recomendo  a leitura de um super documento do CFM/CREMESP, essencial para começar a entender o caso, vá ao link: 


Também vale uma passagem básica por essas matérias


O outro aspecto da coisa é o ideológico. Se você procurar na net (parece que o CFM ia publicar) o "Regulamento Disciplinar para Médicos Cubanos no Exterior" vai perceber que realmente pode-se pensar na influência ideológica que esses profissionais teriam sobre uma população inculta e abandonada, onde "em terra de cego quem tem um olho é rei" e quem tem um diploma é imperador, um semideus, o que dá as ordens e indica caminhos.

E o que eu sugiro?

Minha opinião não serve de nada, mas continuo pensando o de sempre. 

Temos que começar pela educação, que levaria a escolhas políticas mais conscientes, que afastaria o bando de sacanas que estão no poder desde sempre, que nos impediria de votar em troca de benefícios pessoais ao invés dos coletivos.

Depois é preciso exigir do governo que olhe para as áreas afastadas do país, que cuide da segurança das periferias e que crie planos de carreira com estrutura para que médicos sejam fixados em todas as áreas.

Sou a favor também de projetos como o antigo Projeto Rondon que levava jovens estudantes e recem formados para os rincões do país.

 E copiando as ideias do regulamento cubano, em doses mais leves, criar a obrigatoriedade de atuação em áreas afastadas para médicos formados nas universidades públicas. Uma espécie de agradecimento pela formação recebida.

Também precisamos mexer com a questão das especialidades médicas escolhidas. Precisamos de sanitaristas, clínicos gerais, pediatras, médicos de programa de atenção básica que dê mais importância à diarreia e à nutrição do que ao uso de aparelhos alemães e suecos com nomes e funções sofisticadas e difíceis.




Quanto aos profissionais cubanos,  será que são necessários? Afinal, estariam trabalhando por salários muito aquém dos praticados por aqui ou teriam a mesma remuneração dos brasileiros. 

Qualquer das hipóteses seria justa?? As diferenças culturais não seriam mais um entrave, superável, mas limitante a princípio?

E por fim, novamente a questão da educação: qual a qualidade das nossas faculdades de medicina, que tipo de formação é oferecida?

O que precisamos é assistir ao fim da negligência com a saúde da população de TODO o país. 

Esprit de corps? 

Ideologias? 

E a saúde, onde fica?

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