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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Por enquanto Realengo II

Não sou de me chocar tanto.

Talvez o fato de ter sido pega de surpresa mais do que outros, já que só soube dos fatos às 13 horas, me fez não conseguir esperar o esclarecimento dos fatos para escrever.

Também,esclarecer o que? A coisa foi feita, é trágica sim, para as famílias, para a escola, para as autoridades e até para a família do atirador.

Os motivos que o levaram ao ato não mudam muito as coisas, podem no máximo apontar um pedaço do fio que se puxado desvendará diversos nós a desatar.

Insisto em duas coisas:

1ª  Por conta da descaracterização de nossa cultura somada à péssima qualidade da educação observada já há uns 30 anos pelo menos, o povo brasileiro vem a cada dia,adotando como modelo o que vê na TV, no cinema e mais recentemente nos vídeo games. E o que se vê, não é lá muito delicado, pacífico. E tem os noticiários internacionais também.

Não, não estou defendendo a censura aos meios de comunicação e ao entretenimento. Não sou tão simplista e idiota assim. Me refiro ao fato de que o resultado das mudanças das relações familiares nas últimas 3, 4 décadas, mais o declínio da qualidade de ensino, legislação cada vez mais limitante no que se refere ao rigor com jovens e adolescentes, as pessoas vem perdendo "o pé" da situação.

Também não estou bancando a velha saudosista não!

Porém, é comprovável que antigamente, até os anos 60, 70, pais e professores eram os modelos a adotar. E em geral eram bons modelos. Mesmo quando eram ruins, eram respeitados, por convenção ou por medo.
Sou Psicóloga, por isso lamento dizer que as teorias de minha profissão (tão amada) juntamente com a Pedagogia, (especialmente o construtivismo), colaboraram e muito com a perda de controle social ao tornar o que chamam de "espontaniedade" ou "liberdade individual" algo sem possibilidade de ser alvo de crítica, de ponderações.

A transmissão de TV de igual conteúdo para todo o país, provocou sim uma alteração de comportamento nos rincões mais longínquos. Hoje, não há muita diferença entre o comportamento do sertanejo, do índio, do morador dos fundões do sul ou do centro do país. Todos são "alimentados" com as mesmas teorias, atitudes e desejos de paulistanos e cariocas. Isso nos descaracterizou. Nos afastou de nossas raízes, de nossa cultura e de nossos princípios. O que nos restou é aquilo que sempre chamo aqui de macaquismo, de coisa de mico de circo, que no nosso caso, faz um esforço enorme para parecer com o que vem de hollywood. Só que de lá, não vem só estórias e histórias edificantes. Essas, em geral atraem muito pouco à massa de pessoas afetadas pelas mudanças negativas que sofremos. Chamam mais a atenção daqueles um pouco melhor orientados. O atraente mesmo são os filmes e vídeo games onde matar, destruir, trair, humilhar são o tema, a razão de existir...

Aí, vem a história do bullying! Até o termo foi confiscado de nossos vizinhos do norte. Implicâncias cruéis sempre foram características presentes na vida de crianças e adolescentes. Só que havia duas diferenças. Ou eram sofridas e mau ou bem resolvidas pela própria pessoa ao longo do tempo ou eram podadas drasticamente pelos pais, professores ou até pelos amigos mais conscientes dos próprios envolvidos.

Agora, se hoje um pai falar em dar um tapa em um filho, pode ser preso. Generaliza-se a coisa como se qualquer tapa, fosse um espancamento ou fosse deslocado de qualquer motivação. Aí, chega-se aos píncaros da glória de situações como daquele garoto de 11 anos da grande São Paulo que tem uma ficha criminal quilométrica mas não é preso nunca, apenas detido e devolvido à família.

 Ainda sou obrigada a ouvir um "especialista" dizer que o lugar do garoto não é atrás das grades, mas no "seio da família recebendo muito amor". Tenha a santa paciência!

2ª  Há uns 4 anos, li um livro fantástico sobre o jornalismo criminal contemporâneo. Lamentavelmente não me lembro do nome do autor ou do título. O livro fala das mudanças adotadas na abordagem do crime pelos meios de comunicação,especialmente os jornais impressos, que ao contrário do que acontecia nos anos 60, 70, criaram uma espécie de código de ética e deixaram de estampar em suas páginas fotos de cadáveres ou de enaltecer, dar ares de grande feito a atitudes agressivas,a crimes contra a pessoa. Isso foi feito por concluírem que a exposição impensada dessas coisas dão à elas a cara de um feito heróico. Para alguns, seria a única forma de "aparecer", sobressair-se, chamar a atenção. Concordo totalmente.

Aliás, isso aconteceu no Brasil há alguns anos quando um bandido bonitinho quase virou herói nacional. Na época, não sei quem foi o salvador da pátria, que deu um jeito de arrefecer a história e descolorir os fatos, dando à eles no máximo o tom cinza que realmente teria. Mas, se não me engano foi feito um filme à respeito. Não precisa ir longe, recentemente filmou-se a história do ônibus lá no Jd Botânico que foi sequestrado e acabou em mortes. Outro dia mesmo, Bruna Surfistinha estreou, e com certeza será visto como modelo por muitas garotas por aí. Ainda não vi o filme, mas imagino o que vou encontrar.

Há poucos dias, conversando com uma jovem de 24 anos, ouvi o seguinte comentário: O que acontece com a nossa geração? Ela se referia a relacionamentos de casais jovens que cada vez com mais frequência são recheados por agressões físicas (até assassinatos) e dificilmente duram mais do que dois, três anos.

Minha reposta foi impulsiva: falta tudo! ética, noção de qualquer coisa, maturidade, informação, educação, respeito, capacidade de raciocinar e achar soluções adequadas.

É claro que lamento pelas vítimas de Realengo e suas famílias, professores, amigos.

Mas lamento muito mais pela degradação do ser humano aqui ou em qualquer outro lugar do mundo!

Pelo desprezo ou no mínimo indiferença cada vez maior que temos pelas pessoas, pelos relacionamentos, pela vida.

Pior ainda será ouvir os discursos  sensibilizados e determinados de autoridades públicas jurando soluções imediatas.
Elas não existem. Deixamos a coisa ir longe demais, e o retorno a uma situação menos ruim será longa e complexa alem de exigir empenhos de todos: polícia, justiça, famílias,educadores e sei lá quem mais.

Façamos nossa parte.





3 comentários:

  1. E a ESCOLA que deveria ser um lugar de troca de saber vira cenário de crime. Lastimável!

    O meu silêncio e o meu grito.

    @soniasalim

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  2. Muito oportuno, bem escrito, claro e objetivo. Os tempos infelizmente são outros, as pessoas deixaram de ser gente! Como pode existir qualidade em qq coisa onde não está a mão da humanidade, do coração e da alma? Hoje se faz por fazer, o serviço público há tempos em mãos sujas e grande parte da sociedade esclarecida e constituída "vendida" e comprometida até o pescoço com o interesse puro e com negócios escusos e a fins. A educação nas escolas é outra que involuiu, andou para trás, não existe disciplina nem parâmetros de valor moral, fazem por fazer, repito. A IMPUNIDADE e o estado geral de corrupção são os grandes males do Brasil e de sua sociedade como um todo.

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  3. Patricia,esse seu texto mostra tudo. Compartilho dessa mesma linha de pensamento, exatamente como vc escreve. E me sinto o tempo todo aflita com os rumos sociais que tomamos. Procuro fazer meu melhor em casa para educar minha filha, no entanto escuto sempre a fala do novo poeta: tá dominado, tá tudo dominado.

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