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domingo, 22 de maio de 2011

Ponto e Contra-Ponto

Reclamei bastante lá no Twitter da falta de comentários das pessoas no blog.

Recebi alguns pelo TT, mas o limite de 140 caracteres, não facilita uma opinião mais completa. Elas podem ser exatas, mas breves.

Duas dessas respostas recebidas lá são colaborações importantes para a discussão do caso do livro adotado pelo MEC por isso vou reproduzi-los aqui não sem antes agradecer à @maria_fro e ao @cidcancer

Que bom seria se todos se prontificassem a exprimir suas opiniões.

Aliás, na minha opinião o que falta ao brasileiro é isso, manifestar-se, discutir e defender seus pontos de vista, algo inerente à democracia.

Mas somos omissos, infelizmente.

Temos vizinhos, os argentinos, tão diferentes de nós.... uma pedrinha no sapato e o panelaço começa em poucas horas, coisa de povo culto.

Antes de disponibilizar as colaborações dos dois tuiteiros, quero fazer algumas considerações:

- Li os links enviados, alguns já conhecia mas não vejo muita diferença entre o que dizem e o que escrevi aqui no texto anterior. A diferença maior fica por conta do que eu disse lá, eles são especialistas, eu não. Outra diferença ficam por conta da aceitação ou não de algumas opiniões e na defesa da adoção do livro.

- Vou morrer dizendo que um professor deve ensinar a norma culta e que chamar a atenção de um aluno durante uma aula de português sobre erros de concordância (na fala ou na escrita) não é discriminação ou preconceito, mas ensino do idioma.

- No texto do livro há as seguintes frases:

"Vale lembrar que a língua é instrumento de poder". Sim, ao meu ver poder de comunicação.

"A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio" - Sim também, mas será que por isso mesmo querer ampliara o acesso à norma culta não é sinal de que a tal classe dominante pretende dar possibilidade de prestígio aos "dominados"

- (...)a escola deve ser preocupar em apresentar a norma culta aos estudantes, para que eles tenham mais uma variedade à sua disposição(..)" Aí é não, sinto muito. A escola deve ensinar apenas a norma culta (ao menos na disciplina português) e lidar de forma civilizada com os desvios que observar.

-Dispensar a norma culta, para mim é oferecer o pior ou no mínimo o inadequado.

-Outra coisa, todos nós, e eu digo, todos nós mesmo, sabemos da deficiência de formação da maioria de nossos professores. Oferecer à eles a interpretação especializada oferecida pelo livro é arriscado.
-Quantos deles saberão transitar entre os fatores apresentados?

Que espécie de confusão isso irá gerar?

E para que tipo de aluno isso será oferecido?

Se for àqueles que nos deram os índices horrorosos que obtivemos em avaliação educacional, vai ter algum efeito positivo?

E olha que entre esses alunos há muitos "da classe dominante"!

Dominar é tomar conta, tomar o espaço, apoderar-se de uma situação ou de algo. Então, não deveríamos almejar que toda a população fosse transformada em "classe dominante"?

Mantenhamos discussões de especialistas entre especialistas. Divulguemo-nas aos que possam absorvê las. É uma questão estratégica para um país que pretende tornar-se verdadeiramente uma nação a ser respeitada pelo mundo, mas com base em dados reais, verdadeiros não aqueles "vendidos" ao mundo mas que nós, que os vivenciamos sabemos que não é bem assim...

Seguem as manifestações dos tuiteiros:


cidcancer @patrimm http://bit.ly/lvjOtl - http://bit.ly/iXtiKP - http://bit.ly/k1iPeu - http://bit.ly/lVxVE8 - http://bi… (cont) http://deck.ly/~RuGOf 
 
 

maria_fro @patrimm http://bit.ly/kvbGPU, http://bit.ly/ijZSeo, http://bit.ly/kw3PyS 
 
Pensem bem, é justo que vcs não opinem?

3 comentários:

  1. Querida Patrícia:

    Nos últimos tempos tenho sempre a meu lado aqui no escritório (não leio na cama )um pequeno livro intitulado “Todo mundo devia escrever...a escrita como disciplina do pensamento”*, de autoria de Georges Picard, filósofo, editor e jornalista. Comprei-o pelo título que tem tudo a ver com o que venho pensando já há algum tempo como você poderá ler aqui.

    O dito acima serve de introdução ao contraponto que quero fazer ao seu postado “Ponto e Contraponto.” Creio que existe enorme confusão, ou melhor, nenhuma clareza e quase absoluta distinção (como pedia René Descartes) nem quatro conceitos básicos para a entender a comunicação social a saber: a fala, a leitura, a escrita e a interpretação do texto escrito ou falado.

    A capacidade de falar é inata no ser humano. Basta ouvir som dos vocábulos para a criança até menor de dois anos de vida, falar. E ela repete o que ouve – “papate” em vez de sapato, como minha filha dizia – mas sabe muito bem de que objeto se trata.

    Quando iniciamos o estudo das primeiras letras, nos prometem o aprendizado da leitura e da escrita o que muito raramente acontece com a leitura e, eu diria, muito menos do que raramente, na escritura.

    Não sei como pode, mas conheço gente formada em grau superior que é incapaz de interpretar um texto simples. A esmagadora maioria da população brasileira é funcionalmente analfabeta, isto é, lê as palavras mas não sabe o que elas significam.

    Já em relação à escrita entendo que nem os professores, tomados isoladamente, nem os pedagogos, filósofos, sociólogos e psicólogos da educação, e, mais ainda, sequer a sociedade de maneira geral levam a sério a promessa de formar pessoas que saibam escrever. E o que é, afinal “saber escrever”? Para mim o paradigma dessa prática é a carta escrita em 06 de Setembro de 1770 na fazenda Algodões pela escrava Esperança Garcia. Vale a pena transcrevê-la aqui:

    “Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal.
    A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
    A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
    Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
    De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”

    Alguém terá coragem de dizer que não há inúmeros erros de português nesta carta? No entanto eu vejo hoje muita gente boa alegar –“Não sei escrever!”.e, portanto, em razão do alegado ( lembrei do cuscus da Amanda Gurgel, ) jamais escrevem, delegando aos “sabidos” esta tarefa. Mirem-se no exemplo da escrava. A gente só aprende a escrever, escrevendo! Quanto aos erros de português, Herrar é umano!

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  2. Em tempo:
    "Todo mundo devia escrever
    a escrita como disciplina do pensamento"
    Parábola Editorial, 151 páginas, São Paulo-SP 2008
    autor Georges Picard
    tradutor Marcos Marcionilo

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  3. Olá Patricia.
    Essa classe de politicos no poder está querendo copiar grotescamente o que se vê nos países, dito desenvolvidos.
    Querem calar a imprensa, humoristas e agora os mestres ?
    Uma dessas medidas é esculhambar com a lingua patria. Como se já não bastasse o ridiculo das expressões comerciais em anuncios "Sale" "Off".
    De ora em diante, falar e escrever corretamente estará "errado" ?!!!
    Querem passar erroneamente que o "povo" no poder significa tornar aceitavel e correto a maneira de falar das pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar escolas.
    Querem avalizar o mau ensino ?!
    Parabens pelos seus posts, sempre atuais.

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