Um dos assuntos mais discutidos em São Paulo nos últimos anos, é a questão da acessibilidade.
Mesmo assim, ainda é pequena a parcela da população que compreende ou se interessa pelo tema.
Tentarei aqui, fazer um comentário geral no intuito de fazer com que vocês leitores, sejam o estopim da divulgação e reflexão sobre a questão.
Não sejamos hipócritas. A maioria de nós, sente-se incomodado na presença de deficientes físicos e mentais. Sejam eles cegos, surdos, mudos, cadeirantes, etc...
Na minha opinião, isso acontece porque sua existência nos faz lembrar de nossa fragilidade, de que não somos onipotentes.
Ouço muita gente reclamando da insistência do noveleiro Manoel Carlos em abordar o assunto. Isto é um absurdo! Manoel Carlos e a Globo tem prestado um serviço inestimável, empurrando para dentro de nossos olhos a realidade destas pessoas igualzinhas a qualquer um de nós, uma situação que pode surgir a qualquer momento na vida de todos.
Nos tempos de faculdade estagiei na AACD e depois em um hospital de deficientes mentais. Vocês não tem idéia do que se passa. Na AACD o que chama a atenção é a excelência do trabalho realizado e a impossibilidade deles de atender a todos que procuram ajuda. Afinal, são cerca de 2 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência na cidade. Já no hospital.... Pessoas, acreditem, muitas pessoas abandonavam ali seus filhos, pais avós, maridos e esposas que por questões genéticas ou por acidente, tornavam-se "estorvos" em suas vidas. E não estou falando de gente despreparada não. Entre os pais de crianças ali deixadas por exemplo, havia médicos, advogados, que mandavam dinheiro com regularidade mas nunca mais apareciam. Eu não sabia (no afã de meus 20 e poucos anos) se ficava deprimida ou se me transformava num Rambo de saias e saia em busca desses animais confundidos com seres humanos. Nem com animais eles podem ser comparados, pois são raros os animais que abandonam suas crias.
Optei por continuar meu enfrentamento. Mesmo porque, no primário tive uma amiga cadeirante, vítima de poliomielite (uma bagunceira!) e tenho uma pessoa na família com Síndrome de Down, o que me fez desde cedo olhar o caso com outros olhos, menos preconceituosos. Menos. Porque também me senti desconfortável muitas vezes diante de deficientes. Eles desafiam nossa potência, nos tornam impotentes.
Parece que certas coisas passam por nossa vida com mais insistência do que outras. Assim anos depois daquele hospital, aprendi mais ainda sobre o assunto através de meu filho mais velho que acompanhava o trabalho da vereadora Mara Gabrilli. Não eram raros os dias que ele chegava em casa dizendo que a cada dia de trabalho, tinha mais certeza de que nós, não temos do que reclamar. Dizia isso diante das situações que via São Paulo afora.
No mundo todo, vê-se cadeirantes e deficientes mentais pelas ruas, muito mais do que aqui. Isso porque o preconceito e a desinformação no Brasil é muito maior. As dificuldades também. Só nos últimos anos o assunto tem sido abordado com mais seriedade, com mais compromisso. Recentemente, foi criado em São Paulo uma rede de assistência a deficientes , a rede Lucy Montoro com especialistas na área que traz novas perspectivas para todos. A PMSP também vem desenvolvendo campanhas (e atitudes) importantes como a reforma de todas as calçadas da cidade, trabalho cobrado e acompanhado com afinco pela vereadora já citada durante a gestão de Andrea Matarazzo quando Secretário das Subprefeituras e que vem tendo continuidade através dos programas regionais como o Passeio Livre, vem treinando funcionários em Libras (língua brasileira de sinais), instalação de piso podotáteis (aqueles que tem saliências para orientar cegos) e outros. Também as empresas privadas acordaram para a situação, incluindo por exemplo, textos em Braile em suas embalagens, cardápios e instalações.
É importante que as pessoas entendam que a questão da acessiblidade, que pede mudanças não só nas calçadas mas no acesso aos prédios públicos e privados (cinemas, restaurantes, estádios, supermercados) não beneficia apenas deficientes, mas a todos os que em algum momento da vida, vão ter seus movimentos dificultados pela gravidez por exemplo ou pela idade, o que atingirá a todos. Por isso a necessidade de respeito as regras que vem sendo implantadas como as vagas de idosos e deficientes, a utilização de cães guia, etc...
Mas, o termo acessibilidade, abrange muito mais do que nosso poder (e direito) de ir e vir. Ele trata também do direito de acesso fácil à informação, à justiça e ao trabalho. Fala do direito de todos, debilitados ou não, a uma vida digna.
É muito importante que todos nós busquemos mais informação e conhecimento, que superemos a ideia de que os deficientes são dignos de pena. Eles precisam sim de apoio e incentivo para estarem totalmente inseridos na sociedade.
Precisamos rever também as interferências religiosas diante das descobertas da ciência, que impedem o desenvolvimento de terapias que em um futuro não muito distante poderão trazer a cura para estas pessoas, como as pesquisas em células-tronco.
O assunto é inesgotável. Há muito o que dizer e discutir e aprender.
Espero que essas poucas considerações, possam alimentar a curiosidade de vocês e que busquem informações a partir de agora, assim como procurem encarar os fatos de uma forma renovada, diferente, eficiente.
Sugiro alguns links importantes:
http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/passeiolivre/
http://vereadoramaragabrilli.com.br/home.html
http://www.portadeacesso.com/artigos_leis/ct/ct_zats_varella.htm
Procurem acessar e descubram o verdadeiro sentido da palavra Eficiente!
Como você mesma disse, acessibilidade é um assunto que vem sido colocado em pauta frequentemente. Participamos de discussões na net, na escola, com as pessoas que nos rodeiam. No entanto, não conseguimos imaginar que pode acontecer dentro de casa. Aliás,que VAI acontecer. Afinal queremos envelhecer e queremos que as pessoas queridas envelheçam. E aí construímos casas cheias de escadas. E agora? As pessoas já estão envelhecendo e os lugares já não estão tão acessíveis, nem mesmo dentro do próprio espaço.
ResponderExcluirPelo jeito agora resta ensinar a lição aos filhos, fazendo-os entender que não podemos mais ser imediatistas, mas sim ter uma visão mais apurada do que queremos lá na frente.
Mais algumas sugestões:
http://www.youtube.com/watch?v=wEeRB6HWOIA
http://www.fundacaodorina.org.br
http://mundoacessivel.blogspot.com
Muito bem colocado, precisamos colocar o dedo na ferida e mostrar que o preconceito está infelizmente enraizado na cultura de nosso povo. No meu texto sobre Hanseníase falo dessa questão. Acessibilidade é sinônimo de democracia, oportunidade para todos. Parabéns.
ResponderExcluirInteressantíssimo o texto. Tenho lutado muito pela acessibilidade no serviço público e nos escritórios de advocacia. Estou gritando sozinho. Mas um dia vão me ouvir.
ResponderExcluirAbraço!