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sábado, 23 de janeiro de 2010
São Paulo 456 anos de hospitalidade e tolerância
No próximo dia 25, São Paulo completa 456 anos.
A grande metrópole é conhecida mundialmente como um grande centro de eventos e abriga grandes feiras, competições esportivas, shows, exposições e toda espécie de manifestação artística, inclusive gratuitas.
Temos muitos pontos turísticos que atraem gente de todo o país e a própria população, como os parques (em especial o Ibirapuera) , os museus e até grandes avenidas, algumas eternizadas em músicas, atraem a atenção de todos.
Há bairros típicos, hábitos nacionalmente conhecidos como o pastel de feira, as pizzas, o bauru o happy hour (enquanto trânsito desafoga).
Há ainda o comércio vivaz, desde os shoppings centers de luxo até a 25 de março e a feirinha da madrugada. Dos empórios de importados aos mercados distribuidores de alimentos.
É... alguma coisa acontece no coração daquele que aqui chega e cruza a Av Ipiranga com a Av São João e se depara com as esquinas concretas e encara a dura realidade. Observa a deselegância discreta de suas meninas até que descobre Rita Lee a sua mais completa tradução. E viva Caetano, que grita o sentimento do migrante que durante muito tempo permanece entre as sensações de deslumbre e opressão causados pelos arranhas céu, pelo asfalto e pelo caminhar rígido e rápido de homens e mulheres.
São Paulo durante séculos recebeu à todos indistintamente. Somos a 2ª maior população japonesa depois do Japão. Temos italianos, espanhóis, portugueses, alemães, coreanos, chineses, árabes, libaneses, turcos, aos montes!
Temos também gente de todo o país, especialmente nordestinos.
Por essas e outras, aqui não estranhamos nenhum idioma e nos viramos em quase todos eles, falamos portunhol, arranhamos o inglês, conhecemos pelo menos as palavras eisben e strudels do complexo alemão, arriscamos um arigatô e um sayonara por aí, e até, dependendo da situação podemos chamar pelo sto padim Pe Cícero sem nos acharmos estranhos. Faz parte de nosso show, de nosso avesso do avesso.
Prá completar, nos pegamos comemorando o ano novo chinês na Liberdade, participando dos ritos japoneses, participando de casamentos de amigos em mesquitas, frequentando o forró do Centro de Tradições Nordestinas, sentindo vontade de comer um prato específico da culinária vietnamita. E está tudo lá praticamente ao alcance das mãos.
Se precisamos de ajuda divina, é só escolher. Pai de Santo? Pastor Protestante, Padre (quem sabe um jesuíta fundador)? Evangélico, um Rabino, um Católico Hortodoxo Russo, um Monge (ou monja) Budista? Hare Krisnha? Procure-os, estão ali na esquina.
Também convivemos muito bem com os véus islâmicos na 25, com as lindíssimas meninas (com vestidos de meninas, quase bonecas) e seus pais e irmãos com cabelos estranhos(estranhos?), ternos sisudos, barbas e chapéus ou quipás , os Judeus no Bom Retiro. Até procuramos pelos carecas de roupas laranja e rosa prá comprar bons incensos, ou as senhoras de roupas e turbantes africanos que jogam búzios por aí. Ainda existem as ciganas te perguntando:quer ler a sorte, moça bonita?....
Tudo isso com respeito às escolhas de cada um, sem discriminações. Claro que sempre há exceções. Sempre haverá os que não compreendem a diversidade, temem a diferença. E acreditam que os seres humanos são classificáveis por sua origem e escolhas. Bobagem.
Nos últimos anos, tem havido um grande fluxo de latino americanos para cá. Acho que há mais bolivianos na Móoca ou no Pari por exemplo, do que em La Paz.
A cidade recebeu todas essas pessoas e contou com seu suor para crescer e transformar-se no que é hoje. Porém os tempos mudaram, as características das oportuniddes oferecidas aqui também. E hoje, o trecho de Sampa que mais aparece, em contraste com a imagem de megalópole é aquele que fala do povo oprimido nas vilas, nas filas, favelas. Nas filas do desemprego, do transporte público que daqui a umas 2 horas e meia o deixará na porta do trabalho e na favela onde moram além daqueles que sempre lá viveram, policiais, funcionários públicos e gente com diploma universitário, mas que já não consegue ascender por conta da imensa concorrência.
Hoje, é responsabilidade a se cobrar do governo federal e estadual, a necessidade de desmistificar São Paulo perante o resto do país, e criar condições para que as pessoas sejam fixadas em suas regiões. São Paulo não aguenta mais. É preciso acompanhar de perto o que é feito do imigrante latino e do africano que tem vindo prá cá nos últimos tempos. Há muito murmúrio sobre trabalho escravo...
Há de se cuidar também das crianças nos faróis e de seus (i)responsáveis.
Os nossos problemas de trabalho, saúde, educação e transporte nunca serão controlados se o fluxo de migração com pouca qualificação não for resolvido. E resolvido na origem, criando lugares dignos para se viver.
Gostaria muito de sair agora e ir pro Aeroporto de Congonhas, só prá ver avião subindo, só prá ver avião descendo....ma esta noite, a garoa se fez presente, e também já são 22:50 e se eu não pegar este trem que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã!
Corre aí mano!
(fotos do site da Prefeitura do Município de São Paulo)
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Belo texto, Patricia. Não concordo muito com a coisa de que São Paulo não aguenta mais novos migrantes, mas, tirando isso, achei que é um belo texto, uma bela homenagem à nossa cidade.
ResponderExcluirA natureza humana nos impele a obrigação do pertencimento, por questões obvias de sobrevivência, nos atrelamos os grupos sociais. Primeiro grupo é o da família, depois o leque se abre para mais variados grupos. Como o do time, o da empresa a qual trabalhamos, nosso bairro e por fim a nossa cidade.
ResponderExcluirSe pensarmos que o bairrismo, provocado por nossos instintos de sobrevivência, nos leva a justificar a vida em pleno caos, com pouca qualidade de vida. Podemos deduzir que o nosso instinto de sobrevivência está nos colocando numa condição perigosa.
A pergunta que fica é podemos racionalizar e viver em outro lugar?